A youth holds a placard reading "NFP: you's got a program to respect. If you disappoint us, we'll come and get you" during an election night event after the first results of the second round of France's legislative election in Marseille on July 7, 2024. A broad left-wing coalition was leading a tight French legislative election, ahead of both President's centrists and the far right with no group winning an absolute majority, projections showed. (Photo by NICOLAS TUCAT / AFP)

Nenhuma negociação com a direita! Mobilização geral para aplicar e APROFUNDAR o programa da NFP! 

Comunicado da secção francesa da Internacional Comunista Revolucionária 

Os resultados da segunda volta das eleições legislativas despertaram a alegria e, sobretudo, o alívio de milhões de eleitores que temiam uma vitória do Rassemblement National. 

No dia seguinte ao primeiro turno, Le Pen e Bardella já se viam no poder. Compuseram até o seu “futuro” governo e os nomes dos “futuros” ministros vazaram para a imprensa. Confiantes na vitória, adiaram indefinidamente o seu pseudoprograma “social”. “Inicialmente”, explicaram, será austeridade orçamental e reforma aos 66 anos. 

Ontem à noite, tudo isso explodiu-lhes na cara. Com 143 deputados, a aliança RN-Ciotti [líder do Repúblicanos] está muito longe de uma maioria absoluta. 

Com 184 lugares, a Nova Frente Popular ficou à frente do grupo Macronista (166 lugares). Trata-se, portanto, de uma pesada derrota para a “maioria presidencial”, mas não é o descalabro que se avizinhava no dia seguinte às eleições europeias. Os macronistas (ou ex-macronistas) conseguiram mesmo um desempenho melhor do que o anunciado nos últimos dias pelos institutos de sondagem, que, no entanto, tiveram em conta as desistências entre as duas voltas. 

Voltaremos alhures, em detalhe, à nossa rejeição categórica da chamada “Frente Republicana contra a extrema-direita”, esta política de colaboração de classes que, longe de enfraquecer a direita e a extrema-direita, as fortalece. Aqui, sublinhemos apenas que, em termos de lugares conquistados, a “Frente Republicana” beneficiou sobretudo a direita macronista (e os republicanos, que também obtiveram uma pontuação melhor do que a anunciada). As numerosas desistências de candidatos da Nova Frente Popular salvaram a “maioria” incumbente de uma derrota total – e permitiram que os republicanos ganhassem mais alguns lugares. 

No final, a “Frente Republicana” teve o efeito de dar vantagem aos macronistas e aos republicanos, contra o Rassemblement National. Foi o que aconteceu para além do que as sondagens previam. No entanto, seria totalmente errado concluir que o RN está politicamente enfraquecido. Não só o RN obteve mais seis milhões de votos na primeira volta do que em 2022, como a aliança entre o PFN e a direita, entre as duas voltas, só pode reforçar a imagem “antissistema” de Marine Le Pen e dos seus capangas, que pretendem colher os frutos mais cedo ou mais tarde – e talvez muito rapidamente. 

Mobilização nas ruas e empresas! 

A NFP saiu na frente (184 lugares), mas longe da maioria absoluta (289 lugares). Não há, portanto, maioria na Assembleia Nacional para votar a favor do programa da NFP. Portanto, se nos ativermos apenas à composição da Assembleia Nacional, a constituição de um governo que seja pelo menos um pouco “sólido” é um desafio. Longe de ter terminado, a profunda crise política iniciada a 9 de junho está a entrar numa nova fase. 

As negociações e o regateio, nos bastidores, vão multiplicar-se nos próximos dias e semanas. Já os líderes do PS e dos Verdes dizem estar dispostos a desistir do programa da NFP para chegar a “acordos” com os macronistas. Quanto à burguesia francesa, exercerá a máxima pressão para forçar o próximo governo – seja ele qual for – a levar a cabo uma política “responsável”, ou seja, de austeridade. 

Jean-Luc Mélenchon pede a Macron que nomeie um primeiro-ministro da NFP; pede também a este último, seja ele quem for, com antecedência, que componha um governo determinado a aplicar todo o programa da NFP, sem negociar nada com os deputados macronistas. Esta posição contrasta fortemente com a de vários líderes da ala direita da NFP. Mas serão precisamente estes últimos que estarão no centro das negociações. 

Dado o equilíbrio interno de poder na Assembleia Nacional (e dentro da NFP), o que Mélenchon exige não tem qualquer hipótese de ser alcançado na ausência de uma poderosa mobilização extraparlamentar da juventude e dos trabalhadores. O eixo da luta já não está na Assembleia Nacional, mas nas ruas, nas fábricas e nos bairros operários. 

É verdade que a NFP não tem maioria absoluta na Assembleia Nacional. Mas os trabalhadores são a grande maioria no país. Constituem, de longe, a força social decisiva. Sem a sua gentil permissão, nem uma roda gira nem uma luz brilha. Por isso, nos próximos dias, os dirigentes da FI e da CGT – entre outros – devem colocar na agenda mobilizações de massa, incluindo greves renováveis, para exigir o aprofundamento e implementação do programa da NFP. 

Com base numa mobilização revolucionária da juventude e dos trabalhadores, seria possível não só implementar todas as medidas progressistas do programa da NFP, mas até ir muito mais longe – à expropriação dos grandes capitalistas.  Temos de pôr fim ao domínio da economia por um punhado de parasitas gigantes que impõem austeridade, precariedade, desemprego e muitos outros flagelos à esmagadora maioria da população. É preciso derrubá-los, levar os trabalhadores ao poder e reorganizar a economia com base num planeamento democrático do aparelho produtivo. Esta é a única forma de pôr fim ao permanente retrocesso social – e, já agora, de quebrar real e definitivamente a dinâmica da Rassemblement National. 

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One comment

  1. NTÓNIO VERÍSSIMO

    A Nova Frente Popular, uma união de esquerda que junta socialistas, comunistas, ecologistas e outros, venceu as eleições em França.

    A extrema-direita, que venceu a primeira volta destas eleições, ficou na terceira posição.

    Como escreveu Rui Tavares, “para quem passou anos a ver a normalização da extrema-direita em França, esta eleição é um sinal de esperança para a Europa. É agora preciso, mais do que nunca, sinais de responsabilidade numa governação social e ecológica que defenda a democracia.”

    Aqui saudamos esta vitória da Esquerda e regozijamo-nos pelo sentido de responsabilidade do povo eleitor que atirou lá para trás a extrema-direita.

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