Passaram quatro dias do assassinato de Odair Moniz e a revolta dos bairros da área metropolitana de Lisboa continua, apesar dos esforços do Estado por “repor a ordem pública”. É tal o justo sentimento de raiva destes bairros, fartos dos abusos policiais e do seu total abandono.
Mas qual é essa “ordem” que o Estado defende? A pobreza destes bairros não é consequência da sua simples “marginalização”. Eles jogam um papel chave no capitalismo português, fornecendo-o de mão de obra barata, para limpar os escritórios e hotéis, para cozinhar nos restaurantes, para repor as prateleiras dos supermercados, para subir aos andaimes, para arcar, em definitivo, com os empregos mais cansativos e mais mal remunerados. A PSP fica encarregue de defender esta “ordem” capitalista. É por isso que, na última análise, é irreformável, porque a sua função está ligada à defesa de uma “ordem” exploradora e inumana.
Por sua parte, os partidos de esquerda, o PCP e o BE, assobiam para o lado. Ambos exigem apurar responsabilidades pela morte de Odair, mas condenam os “tumultos”. O que eles esquecem é que se não fosse pelos “tumultos”, a morte de Odair teria sido ignorada, como já aconteceu tantas vezes. Voltar à calma para poder apurar responsabilidades é precisamente a fórmula para a impunidade: sem a pressão das ruas nada será feito, e a justiça burguesa aceitará a versão da PSP. Ao mesmo tempo, estes dois partidos sublinharam os problemas sociais subjacentes aos protestos, colocando algumas reivindicações justas, mas que ficam aquém do que seria necessário, que é uma denúncia do capitalismo que se alimenta da miséria destes bairros. Certamente, a queima de lixo ou autocarros, que já causaram situações trágicas como o ferimento de um motorista da carris, não é o método de luta mais “construtivo”. Mas é o único método que estes jovens têm, acurralados pelo Estado e abandonados pela esquerda. O PCP e BE deveriam dar ao movimento um caráter mais organizado e explicar a justeza desta luta.
Por nossa parte, nós, comunistas revolucionários, reiteramos a nossa solidariedade com a revolta e chamamos à participação massiva na manifestação do sábado. Sem justiça não há paz! Justiça para Odair!