O capitalismo está a afundar. A sua crise aprofunda-se. Mas ele não cairá sozinho. Deve ser derrubado pela ação consciente da classe trabalhadora, dirigida pela sua vanguarda e armada com um programa socialista. Se a revolução ainda não tem triunfado nenhures, não é pela falta de combatividade das massas, mas pela ausência de uma direção à altura. De facto, enquanto o sistema está a ruir, as velhas direções da esquerda reformista aferram-se a ele desesperadamente. Só é preciso olhar para o PCP e o BE em Portugal, ambos em crise, para perceber isto. Na situação atual, há grandes oportunidades para uma organização comunista revolucionária.
A nossa tarefa é construir uma organização de quadros, formados nas ideias do marxismo, que seja o embrião de um partido revolucionário de massas, que possa intervir decisivamente nos grandes acontecimentos do futuro. O CCR não pode fazer isso por enquanto. Ainda estamos muito longe de poder realizar uma agitação de massas e de dirigir grandes lutas. Não podemos interpelar a classe trabalhadora no seu conjunto. O nosso objetivo é continuar a recrutar e formar militantes entre o setor mais avançado da juventude, e, consoante as nossas forças, intervir nas diferentes lutas.
Onde estamos? Do Coletivo Marxista ao CCR
Como todos os fenómenos, o desenvolvimento duma organização revolucionária é dialético. Atravessa etapas diferentes, onde o crescimento quantitativo conduz a mudanças qualitativas. Uma organização de 10 ou 20 camaradas não tem a mesma estrutura que uma que tenha 40 ou 50 membros. O CCR encontra-se agora num momento decisivo da sua evolução.
O Coletivo Marxista foi fundado por um punhado de camaradas estrangeiros em Lisboa na véspera da pandemia. Tinham-se calejado politicamente noutras secções da Internacional Comunista Revolucionária (naquela altura TMI). O verdadeiro trabalho público do coletivo só começou, porém, depois dos confinamentos, em 2021. Naquela altura, éramos apenas 4 ou 5 camaradas. O volume de trabalho era limitado e os nossos métodos eram, inevitavelmente, informais.
Graças ao nosso trabalho público, nomeadamente à intervenção em manifestações e, sobretudo, às tertúlias marxistas na Sirigaita, o Coletivo foi crescendo. No início de 2024, éramos já uma dúzia de camaradas. Uma façanha importante foi a publicação do primeiro número do jornal em janeiro de 2024, que é publicado regularmente desde então. Depois veio o primeiro livro do Coletivo, Lições de Abril. A campanha És Comunista trouxe-nos dezenas de contactos. Em maio de 2024 tivemos a primeira escola nacional de formação. Naquele verão, mudamos o nosso nome para Coletivo Comunista Revolucionário, que transmite melhor a nossa identidade e nos permite conectar melhor com a juventude radicalizada.
A nossa presença nas redes sociais foi ampliando-se. No outono de 2024, as nossas intervenções públicas nas manifestações pela Palestina, pelo Odair Moniz, pela habitação e contra o fascismo, tiveram um impacto considerável. As nossas palavras de ordem ecoaram pelo seu radicalismo e pela sua clareza. Formaram-se núcleos de camaradas, embora ainda instáveis, fora de Lisboa, em Coimbra e em Braga e Porto. No início de 2025, ultrapassamos o patamar dos trinta camaradas. Foi um crescimento de mais de 100%. Alguns destes militantes vieram da campanha És Comunista? e das redes sociais, mas muitos dos contactos que dali obtivemos verificaram-se pouco confiáveis. É muito fácil preencher o formulário no site, mas participar das reuniões é mais complicado. As melhores adesões vieram dos eventos públicos e das intervenções nas manifestações, ou seja, através do diálogo direto e presencial com os contactos. A maioria dos novos camaradas são muito jovens –estudantes e trabalhadores novos–, que fazem parte de uma nova geração que só tem conhecido crises, destruição ambiental e precariedade e que está a radicalizar-se rapidamente.
Agora, aproximamo-nos aos 40 membros. Em fevereiro de 2025, dividimos o grupo de Lisboa em duas células, decisão que coloca alguns desafios, mas que já está a dar os seus resultados. Os camaradas do Norte também se reúnem em linha cada duas semanas, enquanto voltamos a ter atividade em Coimbra após uma pausa prolongada. Foi, em definitivo, um ano de grandes sucessos.
Ainda somos muito pequenos e estamos muito longe dos nossos objetivos. Contudo, temos avançado muito, e muito rápido. Isso reflete as condições objetivas, favoráveis às nossas ideias, mas também a orientação correta da organização, com o contributo da Internacional. Mas estes sucessos exigem agora mudanças internas, e uma atitude minuciosa e séria para com a as tarefas práticas que o crescimento nos coloca. Os métodos informais de antanho, que calhavam no Coletivo Marxista, já não são adequados. Se persistirmos neles, a organização ficará paralisada. Ultimamente, de facto, já se tem verificado uma certa confusão nas iniciativas, com problemas de comunicação, duplicidades, etc. O volume de trabalho, a complexidade das tarefas, a diversidade de campos de ação, faz com que seja necessária uma divisão do trabalho mais detalhada e mais formal. Torna-se preciso profissionalizar o CCR, seguindo diferentes eixos.
Formação de quadros
O aumento quantitativo deve ser acompanhado do crescimento qualitativo da organização, nomeadamente no âmbito da formação. A essência da nossa organização são as suas ideias. Elas justificam a nossa existência. O nosso movimento é um manancial de teorias revolucionárias e de experiências históricas. Inevitavelmente, os novos camaradas frequentemente desconhecem a riqueza teórica marxismo. Portanto, é preciso dedicar uma atenção escrupulosa a sua educação. Os grupos de leitura, as discussões políticas nas células, as escolas de formação e o jornal ajudam nessa tarefa.
Porém, além das discussões formais, é importante que os camaradas mais experientes acompanhem individualmente os novos camaradas, para resolver as suas dúvidas, recomendar e discutir leituras, discutir o jornal e explicar as diferentes questões teóricas e históricas. Frequentemente, as discussões políticas mais esclarecedoras não acontecem nas reuniões de célula, mas em conversas individuais, que permitem uma abordagem mais aprofundada e flexível. Não se trata de fazer monólogos, mas, pelo contrário, de escutar as opiniões dos militantes, colocar perguntas, trocar opiniões e, no final, esclarecer as dúvidas concretas que os camaradas possam ter, não apenas sobre temas teóricos mas também sobre questões organizativas práticas. Algumas das melhores discussões do CCR acontecem após as reuniões dos domingos no ambiente informal do RDA. Nesses ambientes informais fortalece-se o vínculo entre os camaradas e o debate político desenvolve-se de forma mais descontraída.
Todavia, a teoria não concerne somente os novos camaradas. Toda a organização tem de trabalhar para a elevação constante do seu nível político. O objetivo é que todos os camaradas possam, no futuro, dirigir o trabalho político autonomamente: que tenham o nível político para construir novas células e para intervir nos acontecimentos.
As células, tijolo da organização
Cada secção e grupo nacional da Internacional Comunista Revolucionária, organizase-nos em células. São os tijolos da organização. É onde os camaradas são formados politicamente e onde o trabalho é organizado, discutido e revisto. De forma geral, quando as células funcionam eficazmente, a organização como um todo cresce e desenvolve-se, tanto em quantidade como em qualidade, de maneira rápida e saudável.
O vigor da célula depende dos camaradas dirigentes. Os núcleos devem procurar reunir-se regularmente todas as semanas e criar um ambiente dinámico e interessante. Todos os camaradas devem ter vontade de participar na reunião e sentir que vão aprender coisas novas. Os camaradas devem sair das reuniões inspirados pelas ideias do marxismo e com um objetivo claro para a semana.
Para atingir esse objetivo, a primeira prioridade de todos os camaradas deve ser garantir que as discussões políticas sejam vivas e interessantes. As introduções e intervenções devem ser claras e inspiradores. Devem transmitir as ideias principais do marxismo de forma compreensível para os camaradas. As discussões devem centrar-se em questões políticas importantes e relevantes, que forneçam aos camaradas as ferramentas para construir a organização. Os camaradas que intervenham devem esforçar-se por apresentar as ideias de forma original e com exemplos concretos. O objetivo, na prática, é “re-recrutar” constantemente todos os camaradas do núcleo. Sem entusiasmo, não construiremos nada. Mas esse entusiasmo precisa de ser alimentado a nível do núcleo através da apresentação cativante das ideias do marxismo.
O segundo objetivo principal dos camaradas dirigentes do núcleo é garantir que este funcione adequadamente a nível organizativo. Não estamos a tentar construir clubes de discussão. A célula deve ser o espaço onde o trabalho concreto da organização é planeado e debatido. Por exemplo, antes de uma intervenção, é necessário discutir considerações táticas e questões políticas. Isto inclui coisas como: como intervimos; por que razão intervimos; que argumentos podem ser utilizados pelos camaradas. Se esta preparação não puder ser feita com antecedência, é aconselhável que os camaradas se encontrem antes de uma intervenção importante para discutir como melhor se ligar às pessoas, que palavras de ordem empregar, ou discutir informações sobre tática.
Se todos os camaradas estiverem convencidos de que uma intervenção é necessária numa luta ou ambiente determinado (através da discussão das perspetivas e das questões políticas em causa) e forem mostrados de que é possível (através da discussão das táticas), então será mais provável que a intervenção seja bem-sucedida. Após uma intervenção numa determinada manifestação ou assembleia, deve haver um relatório, que permita aos camaradas aprender e adaptar as suas táticas para futuras intervenções.
Tudo isto exige que a célula tome decisões e que estas sejam aplicadas. Por essa razão, precisamos de um camarada competente para fazer a ata. A ata não deve ser uma transcrição palavra por palavra do que foi dito, mas deve registar todas as decisões, com as iniciais do camarada responsável e um prazo até ao qual a tarefa será cumprida. As decisões devem ser acompanhadas na reunião seguinte, e devem ser dadas explicações se alguma tarefa não tiver sido realizada.
As células também precisam de uma moderação eficaz. Este é um papel político importante. Cabe-lhe ao moderador garantir que os relatórios e as intervenções sejam concisas e dinâmicas. Deve ser capaz de pensar no momento sobre quais são as prioridades políticas e distribuir o tempo com base nisso. A reunião da célula deve durar 2 horas no máximo, para que todos os camaradas possam participar do início ao fim. Assim, o moderador é responsável por garantir que não se perde tempo e que as principais prioridades políticas são discutidas. O tempo é um bem muito valioso para a classe trabalhadora. Se um trabalhador vier a uma reunião e vir uma atitude displicente, com muito tempo desperdiçado, não voltará.
Devemos procurar que as céulas se realizem sempre à mesma hora da semana. A célula – e não conversas no whatsapp ou noutras plataformas de mensagens – deve ser a unidade básica de tomada de decisões. Por regra, as decisões do núcleo não devem ser tomadas através dessas plataformas, que devem ser usadas apenas para circular convocatórias ou informações urgentes. O abuso dos chats pode ser muito desmotivante para quem não consegue estar constantemente a verificar o telemóvel, sendo forçado a ler centenas de mensagens quando tiver tempo. Este método é, portanto, antidemocrático e acabará por afastar pessoas da organização.
As células são também a plataforma principal de recrutamento para a organização. O sucesso do nosso trabalho mede-se principalmente pela nossa capacidade de recrutar. Os eventos públicos, as bancas, as intervenções nas manifestações, as campanhas nas redes sociais, devem ajudar-nos a crescer quantitativamente, trazendo contactos para a organização. A nossa experiência demonstra que não é difícil encontrar contactos: a crise do capitalismo está a radicalizar a juventude e a torná-la recetiva às nossas ideias. Porém, para tirar partido desta situação, é preciso organizar o trabalho de recrutamento meticulosamente, assegurando que se organizam discussões com os contactos, que são convidados à célula e incutindo a todos os militantes a importância do crescimento e envolvendo-os nesta tarefa.
Fortalecer as células do CCR
Até há pouco tempo, todo o CCR reunia-se conjuntamente no que de facto era uma só célula de 30 camaradas. Isso acarretou vários problemas. Em reuniões de duas horas, tornava-se difícil tratar das diferentes questões políticas e práticas de forma aprofundada. Sempre havia questões que não ficavam esclarecidas. Muitos camaradas não conseguiam intervir, porque ficávamos sem tempo ou porque não se sentiam confortáveis para falar em reuniões tão grandes. Tornava-se difícil o acompanhamento político dos novos membros. Ainda mais importante, a maioria de tarefas acabavam por ser monopolizadas por três ou quatro camaradas mais experientes. Isto, por sua vez, evitava que os novos militantes assumissem responsabilidades e se formassem através da atividade prática.
Portanto, a criação de duas células em Lisboa é um passo importante. A nova célula de Belas Artes está a funcionar muito bem, com reuniões semanais, discussões políticas dinâmicas e uma boa divisão das tarefas. Agora, o seu objetivo é crescer e recrutar novos militantes. O nosso objetivo no meio prazo deve ser criar várias células adicionais na cidade. Mas a criação de novas células só pode dar-se quando existirem as condições: nomeadamente, quando houver uma massa crítica de camaradas, um plano de trabalho claro e, sobretudo, quadros com capacidade para dirigir uma nova agrupação. Quantos camaradas são necessários para isso? Depende das circunstâncias e do grau de preparação dos militantes.
Contactos e Simpatizantes são todos aqueles que se aproximam de nós, que querem conhecer melhor as nossas posições, que podem participar e/ou aderir a alguma das nossas actividades (por exemplo, Palestina, Racismo, Habitação).
Devem ser recebidos de braços abertos e devemos ter uma atitude séria para com eles, procurando que a sua posição possa evoluir para a militância, dando-nos a conhecer, convidando-os inclusive a assistir a alguma reunião de célula, mas, respeitando a sua vontade caso não seja isso que pretendam.
Militantes são os membros de pleno direito na organização. São eles (todos eles) que constituem a organização, que decidem a sua orientação e encarnam a sua actividade. O militante deve ter consciência do papel histórico e necessário que a organização que constrói se propõe a realizar.
A adesão à organização, se bem que possa ter, na sua origem, muitas e diversas razões, deve-se tornar, com o tempo, uma adesão consciente da necessidade histórica da construção de uma direcção revolucionária para assegurar o futuro da humanidade.
Tal como Lenine propôs no II Congresso do POSDR, o militante é aquele que “aceita seu programa e apoia o partido tanto financeiramente quanto por participação pessoal em uma das organizações do partido”.
Daqui decorrem 3 características fundamentais da militância:
1. Concordância com o programa
2. Cotas
3. Participação na actividade de uma célula
É, portanto, inadmissível que um militante não pague cotas (ou se atrase nesse compromisso) ou que não participe na actividade da organização, começando pela participação nas reuniões de célula (o que pressupõe assiduidade e pontualidade).
As células não podem ser demasiado grandes, mas também não se podem dividir de forma irresponsável. Por um lado, quando as células são demasiado grandes, prejudica-se o desenvolvimento político e organizativo dos novos camaradas. Por outro lado, temos de assegurar que as novas células sejam viáveis. Cada célula deve incluir alguém que tenha uma compreensão razoável do marxismo e, graças a isso, seja capaz de responder a questões políticas e também de inspirar os camaradas. Devem também ter alguma capacidade de avaliar uma situação por si próprios e para poder aproveitar as oportunidades que surjam.
O âmago da profissionalização do nosso trabalho é o fortalecimento das células. Essa
deve ser a nossa prioridade no próximo período. Elas são o fulcro dos principais aspetos do nosso trabalho: da formação política, do recrutamento, da difusão jornal e da agitação, das intervenções em lutas e manifestações e das finanças. Para elas operarem adequadamente, requerem principalmente de duas coisas: de quadros com o nível político para orientarem na prática as diferentes atividades (noutras palavras, uma direção local), e de uma adequada divisão do trabalho, que passa pelas seguintes responsabilidades:
Secretário de célula
A função do secretário é sobretudo política, tendo de sugerir temas para a discussão e de estimular e orientar o debate, resolvendo as dúvidas que possam surgir. O secretário deve ter uma visão geral da atividade da célula, bem como um plano de trabalho básico. Deve convocar as reuniões e assegurar que a ordem de trabalhos e a ata sejam distribuídas.
Responsável de imprensa e difusão
O nosso jornal é uma ferramenta poderosa para construir a organização, mas até agora não a temos aproveitado ao máximo. O jornal tem-se vendido muito bem nas manifestações, mas temos feito poucas bancas, e só usamos Revolução esporadicamente nas nossas reuniões e nas discussões com os contactos. Para desenvolver o potencial do jornal, precisamos de responsáveis de imprensa a nível de célula, que organizem as bancas, fiscalizem as vendas e assegurem que o jornal é usado nas nossas intervenções e reuniões. Este camarada também deve acompanhar os outros meios de difusão e propaganda: as redes sociais, os cartazes e autocolantes, as panfletagens, etc.
Tesoureiro
O tesoureiro não é um “contabilista”, mas sim um revolucionário capaz de explicar o cerne político das finanças. Este âmbito tem sido um calcanhar de Aquiles do CCR. A situação melhorará dedicando mais atenção à questão ao nível das células, e para isso necessitamos de tesoureiros políticos esclarecidos e motivados. Cada célula precisa de um tesoureiro que acompanhe o pagamento de cotas e incuta a sua importância política nos militantes, sobretudo nos novos camaradas que amiúde não conhecem as nossas tradições. Os tesoureiros também devem impulsionar as diferentes campanhas de financiamento e explicar os seus objetivos.
Outras funções
Se a célula tiver a força suficiente, é idóneo assignarmos outras funções, por exemplo um responsável de formação, que acompanhe a educação e as leituras dos militantes, ou um responsável pelos contactos e pelo recrutamento, ou camaradas responsáveis para diferentes âmbitos de trabalho (sindicatos, movimento da mulher, movimento estudantil, etc.). Mas isso depende das capacidades específicas de cada célula. O princípio geral deve ser que todos os camaradas tenham alguma função e se sintam responsáveis pela construção do CCR.
A direção
As células não são entidades autónomas, mas fazem parte de um só organismo nacional que trabalha de forma coordenada sobre a base de perspetivas e objetivos compartilhados. Para assegurar isto, a organização estrutura-se e funciona segundo os princípios do centralismo democrático, a forma de organização histórica do movimento comunista, que se pode resumir na máxima liberdade de debate na tomada das decisões, e a máxima unidade na aplicação das decisões acordadas, combinando assim a democracia com a eficácia. Por esse motivo, o órgão superior do CCR é o seu congresso nacional, onde são decididas as principais posições da organização. Porém, para dirigir a organização entre os congressos é preciso escolher órgãos de direção: um Comité Central, que se reúna cada seis ou oito semanas para avaliar e fiscalizar o trabalho da organização e discutir questões as políticas mais relevantes, e um Comité Executivo que monitorize diariamente o trabalho da organização, incluindo as suas publicações e tomadas de posições públicas. Os militantes devem fiscalizar quotidianamente o trabalho dos órgãos de direção.
Uma organização bolchevique exige uma boa direção. Isto não depende de camaradas individuais, mas sim de uma equipa de liderança composta pelos camaradas com o nível político mais elevado e com maiores capacidades organizativas. A liderança deve incluir camaradas com diferentes habilidades que, quando combinados, garantam que o todo seja maior do que a soma das partes. No final, tudo depende da liderança: é ela que marca o tom. Se houver um mau ambiente na organização, um baixo nível político ou falta de iniciativa por parte dos camaradas, isto é, na maioria das vezes, culpa da liderança. Por outro lado, uma organização com um núcleo altamente motivado de camaradas ativos que estão a crescer politicamente, aplicando as suas ideias de forma criativa, flexível, mas baseada em princípios, partilhando responsabilidades organizacionais de forma eficaz e integrando os recém-chegados nas suas fileiras, reflete a influência positiva da sua direção.
Na nossa organização, os cargos não devem conferir qualquer autoridade. Os camaradas devem conquistar autoridade política demonstrando a sua compreensão política através do seu contributo teórico, do seu nível de compromisso e da sua capacidade de executar as decisões tomadas. Um bom dirigente não é alguém que dá ordens aos outros. Se um dirigente se apoiar na imposição de decisões sem as explicar, teremos um processo de seleção negativa dentro da organização. Aqueles que pensam por si próprios acabarão por se afastar, e ficaremos apenas com camaradas obedientes e sem capacidade de crítica. As decisões e o trabalho da direção não devem ser apresentados aos militantes como algo imutável, como um facto consumado. A direção deve elaborar um plano de ação, mas depois deve convencer e ganhar a organização para esse plano. Isso só pode ser feito através da persuasão, utilizando factos e argumentos que demonstrem que o plano é necessário e viável.
Jornal e publicações
O jornal é uma ferramenta crucial do nosso trabalho. O jornal, como explicava Lenine, é um agitador coletivo e um organizador coletivo, ajudando não só a levar a nossa mensagem à classe trabalhadora, mas também a formar e mobilizar os militantes na sua elaboração e na sua distribuição. Embora não abjuremos das novas redes sociais, elas não eliminam a necessidade do jornal, que nos permite alcançar outros públicos, utilizar na atividade prática e presencial e contornar a censura dos algoritmos. Contudo, não temos aproveitado todo o seu potencial. Em parte, isto deve-se ao caráter favorável da situação objetiva: é muito fácil vendê-lo nas múltiplas manifestações que têm estado a decorrer. Neste momento, temos publicado quatro números de Revolução e todos esgotaram bastante rápido.
Porém, é preciso usar o jornal de formas mais criativas. Em primeiro lugar, através de bancas onde consigamos dialogar com pessoas que talvez não vão às manifestações, mas que podem estar interessadas nas nossas ideias. Estas intervenções também ajudam a calejar os camaradas, ensinando-os a discutir com pessoas alheias ao nosso entorno que trarão perguntas e críticas novas às que deveremos de responder. Torna-se necessário também usar o jornal mais ativamente no âmbito interno, nomeadamente nas discussões de célula e nas reuniões de contacto, usando-o como instrumento de formação e como estímulo ao debate. O conteúdo do jornal equilibra achegas teóricas e históricas e análises da conjuntura. É, portanto, uma boa síntese das nossas ideais e da nossa visão da conjuntura dada. A organização em Lisboa deveria garantir, através das duas células, uma banca semanal, pelo menos, ou, em alternativa, uma colagem de cartazes ou panfletagem. As nossas forças atuais fazem isso perfeitamente possível.
Uma façanha do coletivo foi a publicação do livro Lições de Abril. Este documento coloca-nos no mapa da esquerda portuguesa, com uma análise marxista do episódio mais importante na história da luta de classes de Portugal, a revolução de 1974-1975. O livro vendeu-se muito bem, e foi usado ativamente nas discussões do 50 aniversário do PREC. Devemos continuar neste caminho com novas publicações. Por exemplo, é difícil encontrar em Portugal clássicos do marxismo à venda, como O Socialismo utópico e científico ou o Programa de transição. Cabe-nos a nós começar a republicar esses clássicos. Ao mesmo tempo, o CCR tem publicado artigos importantes que, se forem ajuntados, resultariam em livros muito úteis e formativos. Por exemplo, os diferentes artigos sobre Lenine publicados em 2024 poderiam publicar-se como um pequeno livro. Em 2025, manter a publicação de livros para ir formando uma modesta biblioteca. Adicionalmente, todos os militantes devem ser encorajados a escrever no jornal. As pessoas geralmente aprendem através da prática, e a produção de artigos curtos, teóricos ou analíticos, por camaradas mais novos, com a orientação e o apoio de um militante mais experiente, é uma excelente forma de estes camaradas adquirirem conhecimentos sobre um tema específico. Além disso, têm mais confiança para explicar as nossas ideias ao público e desempenhar um papel de liderança nas nossas intervenções. Qualquer introdução a uma discussão política numa célula ou círculo de leitura pode ser a base para um artigo, e vice-versa. No futuro, o nosso jornal deverá também ambicionar ser um jornal “dos trabalhadores”, não apenas “para os trabalhadores”, oferecendo relatos curtos e inspiradores dos acontecimentos em que intervimos, bem como os comentários e opiniões dos nossos leitores.
O jornal e os livros não são o único meio de difusão que temos. Também somos ativos no site e nas redes sociais (instagram e Twitter). Estas últimas têm-se verificado muito importantes para ampliar a nossa influência e espalhar as nossas iniciativas. Temos feito grandes avanços em ambas as frentes, com uma presença muito ativa e uma melhora da qualidade gráfica dos materiais. Este trabalho deve ser desenvolvido ainda mais, sobretudo com a elaboração de materiais audiovisuais semanais (vídeos, memes, uma nova conta de tiktok, e, no futuro, podcasts). A nova direção nacional ficará encarregada de potenciar este esforço.
As finanças
Uma organização revolucionária precisa de autonomia financeira. Deve sustentar-se principalmente através das cotas dos militantes. Não se trata de uma questão secundária, mas do alicerce material que permite a construção do movimento, fornecendo-lhe os recursos necessários. O caso escândalo recente do Bloco de Esquerda, com o despedimento de funcionárias grávidas, mostra os perigos de depender financeiramente do Estado burguês. O CCR não será construído com fundos do Estado ou de patrocinadores ricos. Não há atalhos. Será construído pelo esforço de cada um de nós, incluído o esforço financeiro.
Até agora, o CCR não tem tido grandes necessidades económicas. A maioria das nossas despesas têm sido para pagar os cartazes e autocolantes e subsidiar as viagens dos camaradas aos eventos internacionais. Isso, porém, mudará. Temos tido a sorte de usar a Sirigaita para as nossas reuniões, contribuindo à sua manutenção fazendo turnos no bar. Mas a Sirigaita está em risco iminente de despejo, e não seremos tão afortunados no futuro, numa Lisboa devastada pela especulação imobiliária. Teremos, mais cedo ou mais tarde, que pagar pelo nosso local (o que não é obstáculo para partilharmos espaços com outros movimentos, o que ajuda à nossa integração nas lutas). Do mesmo jeito, no meio-prazo se colocará a questão de destacarmos um camarada para trabalhar a tempo inteiro na organização. Também teremos de pagar um contributo à Internacional Comunista Revolucionária, para apoiar o seu trabalho a escala mundial. Tudo isto requererá de umas finanças fortes. E, infelizmente, as nossas finanças não são tão fortes como deveriam.
As nossas finanças têm sido um ponto fraco. Aproximadamente a metade dos camaradas não paga a cota mensalmente e acumula grandes dívidas. Há várias novas adesões que ainda nem pagaram a primeira cota, embora este seja um critério básico de militância. Muitos camaradas pagam uma cota muito baixa, de 5 euros. As finanças sustentam-se pelas cotas altas de uns poucos camaradas e pelas nossas iniciativas de autofinanciamento, nomeadamente as festas do CCR na Sirigaita. Obviamente, queremos continuar a fazer festas para angariar fundos (tendo um valor duplo: económico, mas também de convívio e de difusão das nossas ideias), e queremos que os camaradas que pagam cotas altas as mantenham (ou as aumentem!), mas o importante e assegurar que todos camaradas endividados paguem a cota a tempo e conseguir que os que pagam cotas de 5 euros as aumentem. A fraqueza das nossas finanças tem muito a ver com a falta de um verdadeiro tesoureiro nacional, que aborde a tarefa em termos políticos e não administrativos. Uma das funções da nova direção será corrigir este defeito. O âmago da questão é: se os camaradas compreenderem a necessidade política de construir uma organização revolucionária, a sua importância no combate contra o capitalismo, eles farão o que seja preciso para cumprir essa missão, incluindo o pagamento de cotas altas para sustentar o trabalho.
As intervenções públicas
Portugal está a mexer. O país tem sido abalado por inúmeros protestos e mobilizações: greves, lutas pela habitação, pelo clima, manifestações pela Palestina, protestos contra o Chega e contra o racismo, pelos direitos da mulher, etc. Temos estado presentes quase sempre. As nossas intervenções públicas têm sido muito bem-sucedidas. Com palavras de ordem revolucionárias, que levamos nas nossas faixas e espalhamos através do megafone e dos nossos panfletos e jornais, temos tido um grande impacto, formando blocos aos que frequentemente se unem simpatizantes e contactos, chegando a mobilizar aproximadamente duas dúzias de camaradas em algumas mobilizações. Muitos dos melhores recrutamentos tem vindo destas intervenções.
Temos de desenvolver este trabalho, preparando as intervenções em termos políticos e práticos (discutindo nas células os temas das manifestações, pensando meticulosamente nas palavras de ordem, elaborando panfletos de qualidade, desenhando as faixas, etc.). Quando possível, temos de envolver-nos na organização das lutas. Já o fizemos em alguns cassos, por exemplo implicando-nos na preparação dos arrais antirracistas do Intendente. Ora, este trabalho também apresenta alguns riscos. É fácil ficarmos atolados em processos de organização longos e desgastantes, que suporiam um fardo a um coletivo pequeno como o nosso. Por enquanto, não temos a capacidade de impulsionar grandes lutas, e, se tentarmos o fazer, partir-nos-íamos a cabeça. Ao mesmo tempo, existe o risco de abordarmos as lutas de forma moralista, impondo-nos o dever moral de estar sempre presentes. Mas temos de ter um sentido da proporção e ser cientes dos limites das nossas forças. Sobretudo, temos de ter um sentido das prioridades: pode parecer mais importante participarmos em tal ou qual protesto, sacrificando aspetos internos da construção do CCR. Mas, no longo prazo, como demonstra toda a experiência histórica, a construção de uma organização comunista é o elemento mais importante para o sucesso da revolução portuguesa. Obviamente, não são coisas mutuamente incompatíveis, e a organização não se constrói no vazio, mas na intervenção na luta de classes. Mas sempre tendo sentido da proporção.
Ainda mais um risco que defrontamos ao irmos aos protestos é o desejo de simplesmente ganharmos influência. Mas esse não deve ser o objetivo principal da intervenção: é-o sobretudo o crescimento do CCR, conseguindo contactos e recrutando novos militantes. E o crescimento, por sua vez, trará influência. Não é o mesmo intervir com 3 camaradas do que com 30, e 60 são melhor do que 30. O índice para o sucesso de uma intervenção é, sobretudo, o crescimento.
O trabalho fora de Lisboa
Em 2024, a expansão do coletivo em Lisboa trouxe-nos contactos por todo o país. Construir fora da capital, porém, verificou-se difícil. A perspetiva de criar um grupo em Évora no início de 2024, por exemplo, ficou em águas de bacalhau. Em Coimbra formamos uma célula bastante grande no verão do ano passado, mas a maioria dos membros a abandonaram depois de sermos atacados pela direção do Bloco de Esquerda, que chantajou os camaradas que pertenciam também a esse partido. Ficamos com um núcleo de três militantes na cidade, mas, compreensivelmente, a nossa presença recuou muito, apesar do esforço do CCR de Lisboa por apoiar o trabalho de Coimbra. No Porto aconteceu uma coisa parecida. A possibilidade de formar uma célula à volta do centro social A Gralha desmoronou-se. Mantemos, porém, dois camaradas muito bons em Braga. Hoje, temos o pequeno núcleo de Coimbra e de Braga, e camaradas isolados no Algarve. A lição destas dificuldades é que é muito difícil construir onde não temos quadros que possam dirigir a atividade sobre o terreno. A tentação de sustentar o trabalho artificialmente desde Lisboa é perigosa, e pode esticar demais as nossas forças. Os contactos e camaradas do resto do país devem ser orientados, inspirados e, na medida do possível, apoiados desde Lisboa, mas terão de ser eles a construir na prática. A prioridade do CCR permanece construir onde já temos uma base sólida, ou seja, em Lisboa. Se o trabalho em Lisboa vingar, o CCR espalhar-se-á pelo país mais cedo ou mais tarde. Esta estratégia é justificada pela experiência de muitas seções da ICR, como a norte-americana ou a sueca. Ali, a construção iniciou-se em Nova Iorque e Gotemburgo respetivamente, onde os camaradas concentraram as suas energias. Após ter formado um bastião sólido nessas zonas, começaram a construir noutras regiões.
Objetivos
Podemos resumir os objetivos do CCR para os próximos 12 meses:
– Fortalecer as células. Passar de duas a três células em Lisboa e daí a quatro e cinco. Assegurar uma boa divisão do trabalho no seu seio, com responsáveis político, de imprensa, de contactos e de finanças.
– Dotar o CCR de uma direção nacional sólida, que coordene o trabalho e o oriente e inspire politicamente. Escolher um Comité Central que se reúna regularmente (cada seis ou oito semanas) e um Comité Executivo que supervisione o trabalho quotidiano e reúna semanalmente.
– Assegurar uma atividade de difusão semanal em Lisboa sob a direção das células (venda do jornal, colagem, panfletagem, etc.).
– Desenvolver a propaganda física (livros, melhor uso do jornal, etc.) e virtual (conta no tiktok, podcast, mais vídeos, etc.).
– Acabar com os atrasos no pagamento das cotas. Elaborar um plano para acabar com as dívidas dos camaradas. Criar uma estrutura de tesoureiros, começando pelas células, que trabalhem como uma equipa e expliquem a importância política das finanças. A direção nacional estruturará este esforço. Elevar as cotas, sobretudo as mais baixas. Trabalhar para o objetivo de, no meio-prazo, alugar um local e destacar um camarada como liberado (funcionário).
– Desenvolver a nossa presença nas lutas seguindo a linha do ano passado, dando ênfase ao crescimento.
– Ajudar os camaradas do resto do país, mas concentrar os principais esforços em transformar Lisboa no baluarte do CCR em Portugal.
Avante aos 50!
O mundo entrou numa nova época de convulsões, guerras, revoluções e contrarrevoluções. O pano de fundo disto tudo é a crise do capitalismo, um sistema totalmente apodrecido que deve ser derrubado para garantir um futuro à humanidade. A Europa verificar-se-á um dos epicentros da crise, já que as bases do seu poder e prosperidade estão a ser pulverizadas. E nela, o decrépito capitalismo português representa um elo fraco. Isto não é mais uma perspetiva longínqua: a instabilidade que tem abalado Portugal, com a queda de Costa e de Montenegro, com o ascenso do Chega, com as sucessivas ondas de protestos dos últimos anos, são sintomas do enorme descontentamento que está a acumular-se na sociedade. É uma raiva ainda confusa, que por enquanto não tem encontrado uma expressão política clara. Toda esta situação é ideal para nós, mas para a aproveitar temos de crescer. Se continuarmos a ser um pequeno grupo mais ou menos laxo, os acontecimentos passar-nos-ão por cima. O objetivo imediato é avançar para os 50 camaradas para o fim do ano, o que nos abrirá novas áreas de trabalho e novas possibilidades. É um escopo perfeitamente atingível, sempre e quando compreendamos as prioridades do momento e foquemos nelas, trabalhando de forma séria, sistemática e disciplinada. Esse é o melhor serviço que podemos prestar à luta de classes no nosso país.