No ano passado, a questão do racismo passou para primeiro plano em Portugal. Bruno Candé foi morto a tiro em plena luz do dia – um homicídio com motivações raciais cometido por um ex-combatente do exército português que esteve na guerra colonial. As forças policiais esforçaram-se por descartar a motivação racista do crime antes de qualquer processo legal ter sequer arrancado, da mesma maneira que tentaram encobrir a violência a que sujeitaram as populações negras da Amadora e do bairro da Jamaica durante os dois anos anteriores.
Mais recentemente, Mamadou Ba, o dirigente do SOS Racismo, foi alvo de uma petição que pedia a sua deportação, nomeadamente por ter ousado criticar a glorificação das atrocidades cometidas pelo exército português nas ex-colónias. O Chega sugeriu até que ele fosse preso por causa dos seus comentários. Este incidente vem no seguimento de uma eleição presidencial na qual André Ventura quase ficou em segundo lugar graças a uma postura demagógica contra o sistema, que incluiu uma retórica abertamente racista e xenófoba.
É compreensível que o aumento do apoio ao Chega tenha causado muito medo entre as minorias étnicas, tendo em conta os ataques do partido contra a comunidade cigana. Não há dúvida de que a extrema-direita tem alcançado algum sucesso com agitação racista e xenófoba. Há grupos de fascistas que veem nisto uma oportunidade para atuar. Por outro lado, há um grande desagrado em relação ao aumento dos casos de racismo e de violência policial. Os jovens, em particular, têm demonstrado prontidão para combater estes fenómenos. Os protestos que se seguiram ao homicídio de Bruno Candé foram as maiores manifestações públicas do ano passado e refletem o verdadeiro equilíbrio de forças na sociedade. O país em geral está a virar-se para a esquerda e não para a direita – apesar do barulho feito pelas vozes racistas e xenófobas.Claro que a classe governativa e os seus representantes, como António Costa, gostam de perpetuar divisões raciais, comparando ativistas antirracistas e reacionários como Ventura como dois extremos equivalentes. Isto permite-lhes continuar a atacar as condições de vida de toda a classe trabalhadora, enquanto preservam as condições que promovem essas divisões e os elementos do Estado que impõem este racismo sistémico. Como disse Malcom X: “Não é possível um capitalismo sem racismo”.
Está na altura do movimento dos trabalhadores e da esquerda responderem à chamada para combater o racismo em Portugal e no resto do mundo. Só combinando este combate com uma luta por políticas genuinamente socialistas é que será possível conseguir atacar as bases sociais da opressão racial.
É necessário exigirmos:
- Justiça para Bruno Candé e todas as vítimas de violência fascista e a ilegalização e desmantelamento de todas as organizações racistas e fascistas
- Justiça para todas as vítimas de violência policial racista, com uma comissão independente eleita por sufrágio direto para eliminar o racismo nas forças policiais
- Uma remodelação da forma como a história colonial portuguesa é ensinada e oficialmente lembrada – as gerações mais novas necessitam de conhecer a verdade sobre a opressão colonial!
- Total solidariedade por parte das lideranças dos sindicatos, do PCP e do BE na luta contra o racismo
- União entre as lutas contra o racismo e contra o capitalismo – o sistema do qual nasce o racismo!