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Contra uma Festa das Latas com precariedade, humilhação e agressão, os estudantes de Coimbra respondem com solidariedade e resistência!

O que aconteceu na Festa das Latas e Imposição de Insígnias de 2025 é mais uma ferida aberta, um retrato claro da Direção Geral (DG) da Associação Académica de Coimbra (AAC) e a sua Comissão Organizadora da Festa das Latas (COFL), especialmente da falta de princípios de solidariedade e dignidade estudantil e artística.

Solidariedade com os elementos da Secção de Fado

As agressões que foram relatadas pela Secção de Fado, de invasão de privacidade, intimidação e violência contra elementos da Orquestra Típica e do Rancho por parte da segurança, são gravíssimas. Estes elementos foram deixados sem condições mínimas, num contentor pequeno e partilhado, após a atuação. A organização falhou em garantir o espaço prometido para as trocas de roupa, uma exigência básica e digna. Ainda mais, um segurança da empresa contratada pela COFL entrou à força no contentor, ameaçando e agredindo quem apenas tentava proteger a privacidade das colegas.

Como relatado pela Secção de Fado, a situação degradou rapidamente. Outros seguranças da empresa 3XL intervieram de forma agressiva, enquanto alguns representantes da DG/AAC e da COFL, presentes ou perto do local, se mostraram completamente indiferentes ao sucedido. Mesmo após alertados para a situação, nada fizeram para proteger as pessoas estudantes que estavam a ser alvo de violência verbal e física.

O transporte que a COFL deveria ter assegurado nem sequer tinha chegado ao recinto, impedindo o grupo de sair em segurança. Apesar disso, os seguranças insistiram em expulsar todos, recorrendo a força excessiva e desproporcionada. Várias pessoas foram empurradas, insultadas e agredidas, tendo a secção reportado que havia até quem necessitasse de assistência hospitalar.

Mas as falhas não ficaram por aqui.

Solidariedade com as pessoas dos Órgãos de Comunicação da Universidade de Coimbra

Os órgãos fundamentais de comunicação livre dentro da AAC também fizeram importantíssimas denúncias, as quais partilharam através de um comunicado oficial. Os seus pedidos de condições de trabalho dignas, de espaço próprio, acesso à água, alimentação e estrutura mínima, foram completamente ignorados.

Estas pessoas estudantes, enquanto faziam o seu trabalho, foram forçados a partilhar um único contentor, sem as condições básicas que deveriam ser cumpridas para continuarem o seu papel essencial de informarem, de darem voz à comunidade estudantil e de partilharem informação sobre o evento de qual a COFL se orgulha tanto. Estas faltas de condições básicas incluem a falta de instalações sanitárias no primeiro e segundo dias, não ser concebido um contentor de lixo e as pessoas estudantes serem negadas a entrada na zona da alimentação para beberem água, apesar de terem credenciais.

No processo de desmontagem, o relato feito pelos órgãos de comunicação afirma que foi concebida uma carrinha para o transporte, mas que ninguém para a conduzir. A justificação que foi dada pela organização foi que “os colaboradores já foram dispensados”, apesar da necessidade ainda existente do transporte para a desmontagem.

Solidariedade com os estudantes da coligação Somos Polo II

Estas falhas estendem-se também à relação da COFL com os núcleos de estudantes. A informação que vamos de seguida partilhar, é encontrada nos relatos feitos pelo Jornal A Cabra, a quem mostramos também solidariedade e agradecemos o seu trabalho.

Durante a segunda noite da Festa das Latas, a coligação Somos Polo II emitiu uma nota de repúdio contra a COFL, decorando temporariamente as suas bancas com fitas e cópias do comunicado em protesto pela falta de comunicação e pelas condições desrespeitosas. Leonor Correia, presidente do Núcleo de Estudantes de Engenharia Civil da Associação Académica de Coimbra, explicou que “não havia outra alternativa para chamar atenção” e que só aconteceu uma reunião com a COFL após a nota de repúdio, dizendo que “quando a nota de repúdio foi lançada, a verdade é que, quase de imediato, foi convocada uma reunião com a coordenadora-geral, o que até então não tinha acontecido”.

Gustavo Alves, presidente do Núcleo de Estudantes de Informática, acrescentou que várias bancas dos núcleos e secções estiveram vazias, evidenciando falhas na logística do evento e na visibilidade das estruturas estudantis. Francisco Cunha, vice-presidente externo do Núcleo de Estudantes de Engenharia Electrotécnica e de Computadores, destacou ainda que a segurança do recinto levantou preocupações durante a montagem, dando como exemplo a inflamabilidade da carpete, que Anaís Pintassilgo, coordenadora-geral da COFL, certifica ter sido verificada e testada.

E o balanço da COFL, apesar de tudo, é…

Extremamente positivo”. Apesar destes acontecimentos, denúncias e protestos, a COFL fez um balanço “extremamente positivo” da Festa das Latas.

Carlos Magalhães, presidente da DG/AAC, alegou que reivindicações dos grupos académicos foram incorporadas no modelo final da festa e celebrou a adesão. Anaís Pintassilgo, coordenadora-geral da COFL, afirmou que foram realizadas várias vistorias de segurança e que a comunicação com os núcleos foi feita dentro das possibilidades da organização, reafirmando que, de modo geral, o evento cumpriu os objetivos planeados.

Tudo isto revela o mesmo padrão: a AAC e a COFL são estruturas burocráticas, distantes das necessidades reais das pessoas estudantes, valorizando um “balanço positivo” e colocando números acima da dignidade, da segurança e da solidariedade com os estudantes que diz representar. Mas é precisamente esta resistência estudantil, a voz dos estudantes, núcleos, das secções, que pode acender uma chama na universidade, para que esta possa ser um espaço de educação, emancipação, luta e transformação.

Resistência estudantil

A resistência estudantil mostra que a universidade não pode ser reduzida a números, protocolos ou interesses de uma burocracia alienada. Cada gesto de solidariedade, cada denúncia de exploração e violência, é parte da luta por uma universidade democrática e verdadeiramente ao serviço de quem nela estuda e trabalha. Por isso, estas denúncias devem ser vistas como algo revolucionário.


“A coisa mais revolucionária que se pode fazer é proclamar sempre, em voz alta, o que está a acontecer.”

Rosa Luxemburgo

Este não é um apelo a uma outra, anterior composição da DG. Estas deixaram sempre claro como a burocracia académica pode ser usada para esmagar formas de resistência.

Um bom exemplo pode ser o dos grupos de estudantes se juntaram para exigir que a instituição reconhecesse a violência e o genocídio que se sucedem na Palestina, e que nessa missão enfrentaram uma luta imensamente longa e desgastante, com imensos desafios e bloqueeios por parte da tal DG.

Este episódio é apenas um reflexo da lógica das variadas DGs: a lógica de convocar certos estudantes, criando uma aparência de democracia, só para que depois esses mesmos estudantes saiam de imediato da sala após um voto específico, com a sua participação limitada apenas a votar no que a burocracia queria. Uma demonstração perfeita de um sistema que não é democrático, que serve apenas para alimentar os interesses da DG e para alienar aquilo que poderia ser um espaço poderoso para organizar os interesses reais dos estudantes.

A resistência estudantil faz parte da luta comunista: enfrentar a exploração, derrubar o poder das estruturas autoritárias e do capital dentro da academia, e construir uma universidade livre, coletiva e ao serviço de todos. A revolução na universidade é real, é possível, e só se concretizará quando a lógica do lucro for completamente expulsa.

Com a inspiração de camaradas nossos de outras Universidades, devemos avançar na luta com o lema:

Fim à burocracia que nos limita e precariza!

Queremos o capitalismo fora da nossa Universidade!

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